quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O Senhor das Moscas, de William Golding


Lançado em 1954, rendeu posteriormente o Nobel de Literatura a seu autor, em 1983. Conta a história de um grupo de jovens que se vêem obrigados a viver de modo selvagem quando o avião em que estavam cai em uma ilha do Pacífico. Claramente uma alegoria social e moral, tem cada personagem muito bem definido em suas características. 
Ralph, por ter sido escolhido pela maioria e por pensar no bem de todos, representa a democracia. Já Jack, seu "rival", representa com sua ânsia selvagem pela caça e falta de ordem, o animalismo que muitas vezes impera na sociedade atual. Porquinho, por outro lado, representaria a ciência, independente da opinião e alegria dos outros, com seus óculos representando a utilidade da ciência, constantemente usurpada por outros grupos. Os caçadores, que olham para Jack como líder em vez de Ralph, são uma alegoria ao exército brutal.
O bicho mencionado no livro, que reconhecemos como O Senhor das Moscas, é uma objetivação do mal em um ser, e além desse ser, presente em cada indivíduo (evidente em Simon), gerando medo e insegurança na primitiva sociedade descrita no livro. Os pequenos são um perfeito exemplo do povo, que se deixa governar sem interferir nas decisões, mas assistindo tudo e achando bonito enquanto isso os apetece. Quando as reuniões perdem seu "charme", há uma debandada descontrolada desses pequenos, que vão brincar na ilha sem se preocupar com nada ou trabalhar.
É o tipo de livro que não se pode resumir em um pequeno texto como esse, pois as alegorias estão presentes em todos os personagens, na relação entre eles e há casos de haver mais de uma em um mesmo personagem (por exemplo, Jack representa ao mesmo tempo o animalismo e o totalitarismo), podendo gerar discussões sem fim. Uma leitura um pouco pesada, com certeza, pois a linguagem é um pouco densa e as descrições são muito ricas, o que enriquece o texto mas traz consigo um tom monótono, que pode ser deixado de lado com uma boa imersão na obra. Um livro para ler, indicar e discutir várias vezes durante a vida.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Um Rush mais progressivo



O Rush define bem seu estilo nesse terceiro álbum, deixando cair um pouco daquele Hard Rock dos dois primeiros álbuns. Músicas muito bem trabalhadas, explorando o contraste entre o calmo e o agressivo (e muito agressivo às vezes) e com um trabalho instrumental que causa inveja em praticamente qualquer banda. A guitarra de Alex Lifeson subindo no mesmo tom que a voz de Geddy Lee, cujo baixo (cheio de variações e solos) se combina perfeitamente com o jeito Neil Peart de tocar bateria.
Voltando ao álbum, temos uma paulada logo de começo. Bastille Day é uma daquelas músicas que passa dias na sua cabeça, sempre aquele baixo alucinante distraindo você de tudo o que você tem para fazer. Passamos para I Think I’m Going Bald, em que vemos algo parecido com o primeiro álbum, música seguindo o riff com um solo fodástico no final da música, assim como Lakeside Park, um pouco mais calma que a anterior. Fechando o lado A do disco temos The Necromancer, um épico progressivo com influências de “O Senhor dos Anéis” no título, a quarta música mais longa do Rush, utiliza o personagem By-Tor do álbum anterior num arranjo genial em suas três partes.
No lado B, temos uma música só. The Fountain of Lamneth, de praticamente 20 minutos. Pode ser considerada tranquilamente como uma das grandes músicas do Rush, tanto em tamanho quanto em qualidade. Seu começo é calmo, mas a coisa vai evoluindo de uma maneira que chega a hora em que a única forma de melhorar é com um belo minuto particular de Neil Peart na bateria. Passado esse momento de glória, voltamos com um efeito de guitarra que culmina em um riff animal, tudo isso com Geddy Lee fazendo um vocal perfeito. Isso tudo é metade da música. Quanto aos outros 10 minutos, os 3 gênios mostram o motivo porque são chamados assim, mas não dá para falar muito, pois o disco tem a capacidade de, conforme se desenrola, fazer esquecer tudo o que o crítico poderia querer dizer. Por esse e outros motivos, não foi devidamente reconhecido pela mídia no seu lançamento. Mas com certeza é uma obra genial, como boa parte do trabalho do Rush.

Lado A

1- "Bastille Day" - 4:37
2- "I Think I'm Going Bald" - 3:37
3- "Lakeside Park" - 4:08
4- "The Necromancer" - 12:30
  • I. "Into Darkness" - 4:12
  • II. "Under The Shadow" - 4:25
  • III. "Return of the Prince" - 3:52
Lado B
1- "The Fountain of Lamneth" - 19:59
  • I. "In the Valley" - 4:18
  • II. "Didacts and Narpets" - 1:00
  • III. "No One at the Bridge" - 4:19
  • IV. "Panacea" - 3:14
  • V. "Bacchus Plateau" - 3:13
  • VI. "The Fountain" - 3:49

O Velho e o Mar




A grande obra de ficção de Hemingway, que lhe trouxe a fama necessária para ganhar em 1954 o Nobel de Literatura. Não conheço nenhuma pessoa que, ao acabar o livro, não passe algum tempo com ele na cabeça. Isso acontece devido ao talento do autor em colocar o leitor dentro do livro, ao ponto de "sentir as feridas do velho na mão e estar tenso com todo o esforço para não perder o peixe".
Um pescador experiente, mas que não possui nada além de sua sabedoria silenciosa. Pode ser o melhor jeito de descrever o personagem principal, que no momento em que a história se passa atravessa uma maré de muito azar com a pesca. Até mesmo seu ajudante, Manolín, foi trocado de barco por seus pais para não "pegar" o azar do velho. No livro, Santiago vai até onde poucos pescadores conseguem ir para tentar pegar um peixe grande. E consegue, mas o trabalho de pescá-lo dura dias, trazendo a fadiga, a fome e muitas reflexões da parte do pescador (que nós podemos mesmos refletir muito). Qual a diferença entre ele e o peixe que quer pescar? Porque ele, tão mais feio, merece viver mais que o animal? Ele começa a considerar sua presa como um amigo, um companheiro. Não podemos nós tratar assim nossas metas? O desfecho do livro é sem dúvida nenhuma muito triste, contrariando a lei do "felizes para sempre", mas a dor também ensina e o que não falta nesse livro é dor. Podemos ler o livro como distração ou passatempo, mas o verdadeiro aprendizado na literatura consiste em "tomar as dores" de Santiago e tentar trazer algo de bom para nós mesmos. Para finalizar, a relação do velho com o mar (que pode ser tomada como nossa relação com a vida) é uma relação romântica, preferindo chamá-lo "La Mar", no feminino, em vez do habitual "El Mar", como é chamado por quem tem medo da suas ondas e não consegue entender que nelas está a sua beleza. 


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O melhor Titã?


Atenção, esse post não é sobre mitologia!!

Ta, ele toca violão, baixo e canta muito. Ele é bom. 
Fez parte de uma das maiores bandas de rock do Brasil. Ele é muito bom.
Gravou músicas com os maiores artistas do Brasil durante anos. Ele é foda. 
Produz álbuns, ainda tem uma banda, é um dos 10 maiores detentores de direitos autorais do Brasil e tudo isso com (pasmem!) menos de 50 anos. Ele é Nando Reis.



Tenho que confessar que não conheço todo o trabalho dele, mas o som dos Titãs em geral é espetacular e nunca ouvi uma música dele que fosse ruim. É sem sombra de dúvida um grande músico, um dos maiores do Brasil, arrisco dizer tranquilamente. Suas parcerias com Cássia Éller, Marisa Monte, Skank, entre outros, além de seu trabalho com sua banda Os Infernais dão a ele o status de astro brasileiro, no nível de Raul Seixas, Rita Lee, Renato Russo e outros poucos músicos de talento em um país cujo maior orgulho é ser pentacampeão da Copa do Mundo. Vale a pena conhecer toda a discografia do rapaz com Os Infernais e Titãs (que todos já deveriam conhecer, aliás). Fica uma que é uma das minhas preferidas pra apreciação geral da nação:


Uma caricatura avermelhada

"Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros."
Uma coisa que sempre me espanta é como um livro curto, de linguagem simples, consegue passar uma mensagem tão forte, a ponto de que quando se acaba o livro, aparece aquela vontade de saber tudo sobre o assunto tratado na obra. Com certeza é o caso desse livro. Escrito magistralmente por George Orwell, escritor e jornalista inglês do século XX, traz em suas poucas páginas uma alegoria caricata à Revolução Russa e a consequente União Soviética, de modo bem humorado e fluido, característica essa própria dos cronistas ingleses.

A identidade entre as personagens do livro e os principais integrantes de todo aquele rolo lá da Rússia (Ex: Major = Lênin, Napoleão = Stalin, etc) é muito clara, assim como a adequação das leis (7 Mandamentos dos bichos) para favorecer a "elite suína" da Granja dos Bichos. O livro também mostra, com as ovelhas, que uma parcela da população (de menor inteligência), uma vez convencida, apoia incondicionalmente o governo (ops, não podemos chamar assim). As semelhanças e paralelos não param por aí, mas falando mais eu estragaria o mistério que é pegar um livro na mão sem saber tudo.

Mesmo com todas essas relações com o socialismo, toda essa crítica social implícita, é um livro muito bom pra se ler como passatempo, justamente por ter uma linguagem tão simples. Realmente, Orwell consegue como pouquíssimos autores estabelecer ao mesmo tempo uma "profundidade superficial" em seus livros. É com certeza um livro para se manter na estante.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Quando o lado claro se torna desnecessário...



Um trabalho conceitual. Uma experiência óptica. Uma viagem no bom e velho rock progressivo. São algumas das definições usadas quando se fala em um dos mais conhecidos álbuns da história, cuja capa é conhecida por todos. Sim, estou falando do Dark Side of The Moon, do Pink Floyd. Lançado em 1973, recebeu muitas críticas na época, críticas essas que depois de mais de trinta anos se tornaram os mais exagerados elogios. Com praticamente todas as faixas interligadas, ouvir esse clássico do rock é uma experiência única para todo amante de prog rock.
Como músicas individualmente ótimas podemos citar Time e Money, a primeira com um dos melhores solos "viajantes" do rock e a outra usando um ritmo totalmente diferenciado e inovador para a época e uma grande interação sax-guitarra. Us and Them também emociona, assim como The Great Gig in The Sky, cujo vocal toca até os corações mais insensíveis.
Talvez o mais marcante dessa obra genial seja a constante alternância entre a suavidade de boa parte do álbum e as partes mais destacadas, que dão aquele toque especial no resultado final. O mais impressionante é que a transição entre ambas não ocorre de maneira abrupta, e sim através de efeitos muito bem produzidos e altamente tecnológicos para a década de 70, como pode se ver no início de praticamente todas as faixas, tornando tudo muito interligado.
Sem dúvida é um álbum para se ter em casa, um álbum para se ouvir muitas vezes antes de morrer, um álbum completo, histórico, perfeito. É o grande triunfo do Pink Floyd na história da música.

Faixas
- Lado A: 
1. "Speak to Me/Breathe" - 3:59
2. "On The Run" - 3:35
3. "Time/Breathe (Reprise) - 7:04
4. "The Great Gig in the Sky" - 4:48
- Lado B:
1. "Money" - 6:24
2. "Us and Them" - 7:49
3. "Any Color You Like" - 3:26
4. "Brain Damage" - 3:50
5. "Eclipse" - 2:06